No início do mês passado, a Microsoft surpreendeu o mundo gamer ao anunciar uma mudança drástica no Xbox Game Pass, transformando o serviço que já foi considerado um dos maiores trunfos do ecossistema Xbox em um dos tópicos mais criticados do ano. A atualização dividiu o Game Pass em várias categorias hierarquizadas, retirando recursos básicos de planos mais acessíveis e, principalmente, dobrando o valor da assinatura mensal.
A reação foi imediata. Jogadores inundaram as redes sociais com críticas, cancelamentos em massa e campanhas de boicote. A percepção geral foi de que a Microsoft havia “traído” sua comunidade, elevando o preço de um serviço que já vinha enfrentando questionamentos sobre a falta de jogos exclusivos de peso.
Mas o que ninguém esperava era ver um grupo de desenvolvedores defendendo o aumento — e não qualquer grupo: os criadores de Call of Duty.
Desenvolvedores da Activision comemoram o aumento do Game Pass
Segundo o insider Ghost of Hope, conhecido por vazar informações precisas sobre a franquia Call of Duty, vários desenvolvedores da Activision afirmaram, sob anonimato, que o aumento do preço do Game Pass é algo positivo.
Em uma postagem recente, ele declarou:
“Conversei com diversos desenvolvedores de Call of Duty que disseram que o aumento do Xbox Game Pass, de 20 para 30 dólares, será uma vitória financeira para os estúdios. Isso trará mais receita, mais controle sobre o futuro e potencial para bônus maiores, caso os projetos sejam bem-sucedidos.”
Segundo as fontes, o clima dentro da Activision melhorou após a integração completa à Microsoft, especialmente com o desenvolvimento de Call of Duty: Black Ops 7, previsto para 2025. Os funcionários estariam confiantes de que a nova política de preços pode aumentar as receitas e garantir mais autonomia criativa.
A comunidade reage: “Um tapa na cara dos jogadores”
A reação dos fãs foi explosiva. Nos fóruns e redes sociais, as declarações foram recebidas como “um insulto” à comunidade gamer, que já vinha criticando duramente a Microsoft pela falta de entregas relevantes no serviço.
O argumento dos desenvolvedores foi amplamente refutado por analistas e jogadores. Dados recentes apontam que as assinaturas do Game Pass estão em queda desde 2023, e que o aumento de preço pode acelerar ainda mais esse declínio.
Gráficos compartilhados por investidores indicam que, desde 2022, o número de assinantes ativos estagnou na casa dos 35 milhões, com tendência de queda após o aumento. O principal motivo? Muitos jogadores assinam o Game Pass apenas para jogar um lançamento e depois cancelam, em vez de manter uma assinatura recorrente.
Ou seja, embora o preço mais alto possa gerar receita imediata, o efeito a longo prazo tende a ser negativo.
O paradoxo do Game Pass: mais caro, mas com menos valor
O grande problema, segundo críticos, é que o valor do Game Pass aumentou, mas a qualidade dos jogos não acompanhou.
Nos últimos anos, o serviço deixou de receber lançamentos de impacto. Exclusivos como Halo Infinite e Redfall desapontaram, enquanto franquias como Forza e Gears of War parecem estagnadas. O aclamado Hi-Fi Rush, um dos poucos sucessos recentes, teve seu estúdio fechado meses depois.
A comunidade resume a situação em uma frase recorrente nas redes:
“A Microsoft quer cobrar o dobro, mas entrega metade.”
Sem títulos fortes e com a base de consoles Xbox em queda — as vendas caíram cerca de 30% em 2025, segundo relatórios internos —, o aumento do Game Pass parece uma aposta arriscada, especialmente num cenário em que a Microsoft vem priorizando o público de PC e até cogitando expandir o serviço para PlayStation e Nintendo Switch.
Especialistas alertam: modelo atual é insustentável
Ex-funcionários da própria Microsoft e de estúdios como a Arkane e Bethesda têm criticado abertamente o modelo de negócios do Game Pass. O fundador da Arkane chegou a afirmar que “o Game Pass é insustentável”, pois reduz o incentivo à compra de jogos e diminui a lucratividade das produções de longo prazo.
Os números confirmam essa visão. Quando Call of Duty: Black Ops 6 chegou ao Game Pass, a Microsoft teria perdido centenas de milhões de dólares em vendas. Isso porque muitos jogadores optaram por assinar o serviço por um mês — pagando cerca de R$ 60 — em vez de comprar o jogo por R$ 350.
O mesmo padrão se repetiu em vários lançamentos recentes: alto pico inicial de assinaturas, seguido de cancelamentos em massa nas semanas seguintes.
“Autonomia” ou dependência?
Os desenvolvedores de Call of Duty justificam seu apoio ao aumento alegando que isso lhes dará “mais autonomia”. No entanto, especialistas consideram essa visão ingênua, já que a Activision Blizzard agora pertence integralmente à Microsoft.
Em um cenário onde estúdios são fechados e equipes demitidas com frequência, a ideia de independência financeira dentro de um conglomerado bilionário soa ilusória. Se os resultados não corresponderem às metas, a Microsoft pode simplesmente cortar recursos, como já fez com outras divisões.
O futuro incerto do Xbox
Entre cancelamentos de estúdios, perda de credibilidade e uma comunidade cada vez mais desmotivada, a marca Xbox vive um de seus piores momentos. O aumento do Game Pass, que deveria reforçar o ecossistema, acabou se tornando um símbolo da crise de identidade da Microsoft nos games.
Enquanto a Sony e a Nintendo consolidam suas posições com catálogos fortes e bases de consoles em crescimento, o Xbox parece caminhar para se tornar apenas uma publicadora de jogos multiplataforma.
A menos que a empresa volte a investir pesadamente em jogos exclusivos de qualidade, preços justos e uma relação mais transparente com a comunidade, o futuro do Xbox pode ser, como muitos analistas já dizem, um “game over anunciado”.


Deixe o seu Comentário